Em 1949, Juan Daniel Ferrer construiu em Copacabana o Teatro Follies e com sua mulher criou sua própria companhia.
Juan Daniel, como se tornou conhecido, era espanhol
nascido no ano de 1907, em Barcelona, que emigrou para a Argentina com sua
família em 1923.
Em Buenos Aires, ingressou no teatro de revistas, como
bailarino e posteriormente tornou-se ator-cantor, que se apresentava de cara pintada
e cantava Sonny Boy imitando o famoso cantor negro norte americano, Al Jolson.
Em 1929, Juan Daniel emigrou para o Brasil, onde se casou com a atriz argentina, Maria Irma López, com quem teve dois filhos.
No Brasil, Juan Daniel se apresentou como cantor em
diversas emissoras de rádio e mais a frente atuou como cantor e diretor
artístico do Cassino Atlântico.
Em 1946, o governo Dutra fechou os cassinos e Juan Daniel,
desempregado, passa a atuar em circos, em seguida no Teatro Jardel, numa
revista ao lado de Mara Rúbia e Renata Fronzi.
Juan Daniel apreciava um carteado e com frequência se
reunia com um grupo de parceiros para arriscar a sorte no jogo. Foi quando
conheceu Leopoldo Augusto da Silveira Franca, um dos parceiros de jogo e proprietária da loja situada no andar térreo do Edifício
Safira, na Av. Copacabana 1246. Juan Daniel propôs-lhe uma parceria para a instalação de um
teatro no referido imóvel, ele imediatamente aceitou e logo iniciaram as obras
necessárias para adaptação.
Com o apoio financeiro de Leopoldo, Juan Daniel
contratou os melhores profissionais da época, os quais se encarregaram de
suprir o novo teatro com cerca de trezentas confortáveis poltronas, um pequeno
palco e uma cabine de comando elétrico das luzes de cena.
No subsolo, situavam-se os camarins, onde se acomodavam
os atores, os quais durante as horas de apresentação, vez por outra eram
surpreendidos por inesperada inundação que transbordava pelos ralos.
O subsolo do edifício
Safira dispunha de uma única caixa receptora dos esgotos de todo o prédio,
cujas águas e detritos eram recalcados por uma bomba elétrica para a rede de
esgotos da rua. Uma operação que não podia falhar, mas que o esperto Almeida, administrador do prédio, propositalmente provocava a pane e se beneficiava com as gratificações e forjadas notas fiscais frias, correspondentes à prestação de serviços; isto é, o Almeida criava dificuldades, para vender facilidades.
O desconforto era tamanho, que todos tínhamos que caminhar sobre tábuas distribuídas por todo o trajeto entre os camarins e o palco, agravado pelos odores fétidos da merda flutuante.
Apesar das inconveniências apresentadas, as instalações
do novo Teatro Follies eram superiores aos demais teatros de bolso existentes na zona sul do Rio de Janeiro.
Em 1950, o Teatro
Follies anunciava na sua fachada, com legendas
em diferentes cores, feericamente iluminadas pela luz do neon, a estréia
da exótica dançarina Luz Del Fuego.
Luz Del Fuego estudou
na Europa, de volta ao país, provoca a revolução nos costumes e, Juan Daniel
convida-a para inaugurar o teatro.
Com suas apresentações de dança, na época,
ela era a grande atração, graças à curiosidade despertada no público, o qual
superlotava diariamente o teatro.
Ela foi a primeira naturista do país, nasceu em 1917, na
cidade de Cachoeiro de Itapemirim, estado do Espírito Santo.
Em 1967, quando solitariamente habitava a Ilha do Sol, Luz Del Fuego e seu caseiro foram barbaramente
assassinados por dois pescadores assaltantes, seus corpos foram amarrados em
pedras e lançados ao mar.
Cabe lembrar, que nas décadas de 1940/1960, não havia
patrocinadores, os teatros dependiam exclusivamente da venda dos ingressos das
apresentações que ocorriam diariamente
com duas seções as terças, quartas e sextas-feiras, nos horários de 20h às 22h
e 22h à 00h. Às Quintas,
sábados e domingos ocorriam as matinês das 16 às 18 horas. Segunda-feira era o dia de folga dos atores, assim, à noite
ocupavam todas as mesas dos Restaurantes da Rua Pedro I, na Praça Tiradentes e,
a partir de 1957, o “La Fiorentina”, do Leme.
Juan Daniel revelou-se um parceiro pouco confiável e Leopoldo designou seu genro, o Tenente Antônio Carreira, para representá-lo na fiscalização da bilheteria, que
por sua vez admitiu a bilheteira Helena, a qual era de sua total confiança.
O Tenente Antônio Carreira, que se tornou meu amigo, até
hoje se comove ao relembrar os velhos tempos.
Ele possui todo um passado, cuja
história pretendo relatar mais adiante.
Como jovem
tenente, era um idealista e admirador de Carlos Lacerda, como tal integrou o
grupo da famosa República do Galeão e, após o Golpe de 1964, tornou-se um dos
mais importantes empresários da indústria de telecomunicações do país.
Antônio Carreira fundou a "INDUCO" e nesse derradeiro empreendimento teve como colaboradores
imediatos os correligionários, companheiros de farda e de aventuras, Veloso e
Lameirão. Reúnem os três um histórico que os remete à uma das tentativas de
golpe no governo de Juscelino.
Foram eles os
autores do primeiro sequestro de um avião da Panair, desviado em 1956, do Rio
de Janeiro para Jacareacanga, Estado do
Pará.
Elvira Pagã, cujo verdadeiro nome era, Elvira Cozzolino, nasceu em 1920, na cidade de Itararé, São Paulo, era paulista
de nascimento e carioca por adoção. Faleceu no Rio de Janeiro, em 2003.
Junto com Luz Del Fuego, ela Integrou o elenco da “Companhia
Juan Daniel”, no Teatro Follies.
Elvira Pagã era um mito sexual, como estrela do teatro de
revista disputava a liderança com Luz Del Fuego.
Em 1950, Elvira lançou o biquíni na praia de Copacabana e
foi eleita como a primeira Rainha do Carnaval carioca.
No Natal desse mesmo ano, posou nua para uma foto e enviou-a como cartão de boas-festas para os amigos e
demais personalidades da época.
Elvira Pagão e Luz Del Fuego, seguramente foram as
principais estrelas capazes de mobilizar platéias advindas dos mais longínquos
bairros do subúrbio do Rio de Janeiro e outras plagas deste país. Foram ambas
as principais responsáveis pelo sucesso financeiro do empresário Juan Daniel,
que perdurou até fins do ano de 1951.
Nesse ano, Juan Daniel, que era um mau pagador, acabou
sendo expulso do Teatro pelo então, proprietário do imóvel, Tenente
Antônio Carreira.
Desistiu de ser empresário e
ingressou na TV, onde integrou como produtor na equipe do Boni, o José
Bonifácio de Oliveira Sobrinho.
Zilco Ribeiro foi o novo parceiro de Antônio Carreira, desta
vez um colega de farda, um ex-piloto, instrutor de vôo da
FAB, que acabara de ingressar no teatro como o mais novo empresário. Uma
história que nos deteremos em capítulo próximo.
AGUARDEM!
2 comentários:
Este é um trabalho de quem viu acontecer. Cada depoimento enriquece a história do teatro no país.
Parabéns!
Para quem gosta de teatro e mulherão é um prato feito!
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