sexta-feira, 16 de novembro de 2012

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Virginia Lane


Virginia Lane - 1920

Virgínia Lane (Virgínia Giaccone) “Vedete do Brasil” é carioca do Estácio, Cidade do Rio de Janeiro, nasceu em 28/02/1920. Iniciou sua carreira artística aos quinze anos de idade, ano de 1935, quando desponta como revelação e estreia como cantora na Rádio Mayrink Veiga, apresentada pelo radialista César Ladeira no programa "Garota bibelô".

Em 1943, Virgínia foi contratada como corista do Cassino da Urca e logo se tornou "crooner" da orquestra do maestro Vicente Paiva a qual, se apresentava simultaneamente na Rádio Mayrink Veiga.

No Teatro Follies havia 14 apresentações por semana, as quais nos proporcionavam um convívio diário e fraterno.

As quintas e domingos, Virgínia aproveitava o intervalo da matinê e a seção das 20h e nos convidava para jantar numa pensão, instalada num dos casarões da Rua Djalma Urich, em Copacabana.

Nesses encontros, Virgínia esquecia o teatro e nos falava sobre amenidades e, sobretudo, a respeito de sua juventude e aventuras amorosas. Num desses jantares, Virgínia contou-nos, que na adolescensia enamorou-se pela primeira vez com um jovem cadete da Marinha a quem se entregou apaixonadamente.

Dona Rute, sua mãe, a
o tomar conhecimento do fato, assassinou a tiros o jovem rapaz. Ela foi levada ao tribunal e absolvida sob a alegação da defesa de honra da filha.

Virgínia nos confessou que se entregou por livre e espontânea vontade e havia dito a mãe, porém nada impediu a tragédia.

Em 1945, Virgínia foi para a Argentina atuar na Rádio Splendid e na boate Tabaris, onde permaneceu até 1948, quando retornou ao Brasil.

Em 1948, Virgínia reinicia sua carreira no Rio de Janeiro, contratada pelo empresário Chianca de Garcia. Estreia como vedete no Teatro Carlos Gomes, na revista "Um milhão de mulheres", ao lado de Salomé Parísio e a dupla, Colé e Celeste Aída. Virgínia obteve grande sucesso e logo despertou o interesse do Walter Pinto, maior empresário do teatro de revistas do país.

Maria Olenewa
Virgínia deve em parte o seu sucesso e garra adquirida e a sólida formação que obteve, aos cuidados de sua mãe; ao internato do Colégio Regina Coeli, onde estudou dos seis aos 14 anos; e posteriormente ao Instituto Lafayette. Frequentou ainda Faculdade de Direito, somente por um ano, quando decidiu ingressar na Escola de Bailados do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, sob a direção                  de Maria Olenewa.


Em 1950, Walter Pinto se preparou para uma nova estreia, com a revista "Jabaculê de Penacho" e encomendou ao compositor Luís Antônio, uma composição musical para abertura desse espetáculo. Surgiu então, a marchinha carnavalesca "Sassaricando", que fora lançada em disco na voz da Virgínia, com estrondoso sucesso naquele mesmo ano.

Walter Pinto não titubeou, ao invés de "Jabaculê de Penacho", diante do sucesso musical da gravação, providenciou a troca do nome para "Eu quero sassaricá", cujo termo
ainda hoje habita as páginas de nossos dicionários como expressão maliciosa do verbo “Sassaricar”.


Em 1950, um incêndio atinge as instalações do Teatro Recreio e Virgínia perde todo seu guarda roupa e jóias. Ela chorou e lamentou por não ter percebido os insistentes latidos de seu cão de estimação “Sassarico”, que alertou à todos, minutos antes, graças à capacidade premonitória, superior aos humanos.


Durante quatro anos consecutivos, a Vedete Virgínia Lane foi imbatível como sucesso de bilheteria na Companhia de Revistas no Teatro Recreio, situado na Praça Tiradentes, no Rio de Janeiro.

Terminada a temporada no Teatro Recreio em 1952, Virgínia retorna ao Teatro Carlos Gomes com uma nova revista musical de curta temporada e repete um novo sucesso com duas novas marchinhas gravadas em disco: "Santo Antônio casamenteiro", de Antônio Almeida e Alberto Ribeiro e "Balão", de Luiz Ant
ônio.






Primeiro de maio de 1951, no Campo de São Cristovão do Rio de Janeiro, Virgínia canta suas marchinhas carnavelescas, nas comemorações do Dia do trabalhador.




Em 1953, Virgínia assina contrato com Zilco Ribeiro e estreia no Teatro Follies de Copacabana com a revista musical “Tout Va Très Bien” e em seguida com a revista “Ok Baby”. Como estrela máxima do elenco, ela atraiu grande público. A partir desse ano foi quando tivemos oportunidade de um convívio maior, o qual perdurou por um período que se estendeu até fins de 1950, quando se apresentou no Teatro Municipal de Niterói.




Em 1952 foi eleita Rainha das Atrizes, sucedendo à Joana D’arc, título promovido pela Casa dos Artistas do Rio de janeiro.







Em 1954, estrelou as peças "Tout Va Très Bien" e "OK Baby", produzidas por Zilco Ribeiro, no Teatro Follies.





A partir dos anos de 1953, época em que trabalhamos juntos, Virgínia administrou magistralmente todo o elenco de sua Companhia, nunca se deixou perturbar com os frequentes assédios e a presença diária de dois namorados que dividiam espaço nos bastidores do Teatro.    

Ao final de cada apresentação, não faltavam as corbelhas, bilhetes e convites para jantares.
Nos bastidores e camarins circulavam os mensageiros, conhecidos no meio teatral como “avisadores”, os quais sobreviviam à custa de gorjetas, cujo valor dependia do resultado de cada intermediação.

Epitacinho (João Pessoa Neto) era um jovem paraibano, herdeiro de cinquenta milhões de cruzeiros (5 milhões de reais), porém intocáveis na época, pois somente estariam disponíveis após completar 21 anos de idade.

Com pouco mais de 18 anos, Epitacinho veio morar no Rio de Janeiro e passou a frequentar a noite carioca, inclusive os bastidores do Teatro Follies, quando conquistou Virgínia, atraída com o histórico e as promessas do jovem milionário.

A partir de então, alguns encontros íntimos de Virgínia com Epitacinho ocorreram no Hotel Miramar, em Copacabana, onde ele se hospedara.

Epitacinho demonstrava desvios de conduta, provocados em parte pela educação recebida, bem como devido ao impacto emocional provocado com o falecimento do pai e o suicídio de sua mãe.

Virgínia, contudo, percebeu a furada e tratou de se descartar dessa figura, cuja imaturidade se manifestava, inclusive através dos inúmeros cheques emitidos na praça, os quais lhe renderam um processo como estelionatário e só não o prenderam devido a menor idade.





Em 1952, o Presidente Getúlio Vargas recebe Virgínia Lane em visita oficial ao Palácio do Catete.







Ao completar 38 anos de idade, Virgínia decide finalmente encerrar suas aventuras amorosas e casou com o médico Sérgio Kröeff, filho do oncologista e proprietário do Hospital Mário Kröeff. O casamento se deu na Igreja do Outeiro de N. S. da Glória, onde não faltou véu e grinalda com flores de laranjeira.






Compositor Luiz Antônio - 1921/1996
Grande paixão de Virgínia










1954 - Virgínia Lane e seu marido Sérgio Kröeff desfrutam da lua de mel.








Virgínia completara então 32 anos de idade, 17 do início de sua bem sucedida e sedimentada carreira artística, que a consagrou como a verdadeira e única “Vedete do Brasil”, título atribuído pelo Presidente Vargas, assíduo frequentador dos espetáculos no Teatro Recreio.








1955- Encontro de duas grandes estrelas
Virgínia Lane e Carmen Miranda -1909/1955





Virgínia permaneceu no Teatro Follies, inicialmente como contratada, e posteriormente, como empresária do elenco, pois ocupou o teatro após a saída do Zilco Ribeiro em fins de 1954.

Virgínia sempre demonstrou competência, quer como grande Vedete, quer como empresária, gestora de sua própria companhia, cuja equipe era constituída por reduzido número de colaboradores, entre os quais, faziam parte:

Casimiro (Manekolopp) como eletricista Iluminador; o palhaço circense Manula, como secretário; e o padrasto Nelson, companheiro de dona Rute, uma gaúcha de São Borja, mãe de Virgínia, a qual sempre a acompanhou em todas apresentações.

Dona Rute, mãe de Virgínia era uma espécie de anjo da guarda, sempre presente no camarim da filha; onde invocava seus orixás; defumava o recinto; acendia vela; orava pelo sucesso de sua filha e para que esta se visse livre das terríveis cólicas menstruais, as quais mensalmente acometiam Virgínia.

O padrasto Nelson era um compositor musical sem nenhum sucesso gravado. Suponho que essa aproximação com dona Rute visava à perspectiva de que algum dia, Virgínia viesse a gravar uma das marchinhas dele.

Nelson era um duro sem eira nem beira e exercia a função de fiscal durante as apresentações dos espetáculos e realizava algumas compras para o suprimento, como lâmpadas refletoras e outros materiais técnicos de reposição.

Nelson aproveitava-se desse expediente e frequentemente adulterava notas fiscais de compra para se beneficiar com alguns trocados.

Virgínia foi mulher de muitos amores, porém com raros envolvimentos ou paixões.
Era uma mulher pragmática e objetiva, focada na sua carreira e sem vícios.
Não foi pequena a lista de amantes que passaram pela vida de Virgínia, mas todos escolhidos a dedo, pois pertenciam a grupos de celebridades de maior destaque na política ou milionários herdeiros de grandes fortunas.

A primeira fila de poltronas de um teatro é conhecida como a disputada pela “turma do gargarejo”, reservada aos velhinhos admiradores de suas musas, dotadas de corpos esculturais.

Os artistas, por sua vez, conferiam, através de aberturas nas cortinas, quais as personalidades presentes na plateia, cuja presença era digna de destaque e anunciada para as boas vindas ao espetáculo.

Certa vez, encontrava-se presente um famoso senador da república, Alencastro Guimarães, que era membro do PTB gaúcho.

Virgínia percebeu a presença do Senador e, assim que terminou o prólogo de abertura, ela solicitou uma salva de palmas e de imediato mostrou um anel de brilhante alojado em seu dedo, e comentou:
“Este lindo anel foi ele quem me presenteou” (fecha o pano com mais aplausos).





Em 1954, na revista "Ok Baby" no Teatro Follies de Copacabana, Virgínia Lane faz dupla com o ator Ruy Cavalcante no quadro "Boneca de Piche", autoria de Ary Barroso.






Após uma curta temporada no Teatro Municipal de Niterói ao final dos anos de 1950, Virgínia adquiriu um ônibus e viajou por todo o país com suas Virginetes, obtendo enorme sucesso.






Virgínia numa apresentação especial
em programa de TV, no Rio de Janeiro







Virgínia Lane conseguiu reunir ao talento uma inigualável liderança sobre seus comandados e uma enorme capacidade de se manter na mídia, tomando atitudes promocionais dignas de grandes marqueteiros. Algumas delas estapafúrdias, como seu depoimento à Rádio Globo, sobre a morte do Presidente Vargas, de cuja intimidade asseguramos que jamais privou, salvo num encontro rápido, conforme relatado no “Diário de Vargas”, onde se refere aos inúmeros affaires extraconjugais, porém todos sem maiores consequências.

O teatro musical carioca representava na época a principal vitrine, onde as mais belas mulheres desfilavam para uma plateia repleta de homens que corriam a cata de aventuras amorosas, muitas das quais resultaram em casamento.

Nesse período, todos nós nos divertíamos com os fatos ocorridos nos bastidores do Teatro Follies. Numa dessas ocasiões, Virgínia, farta de aturar o “mala” do Epitacinho, o qual portava um revólver e o exibia insinuando ameaças e indiretas dirigidas ao compositor Luiz Antônio, antigo namorado de Virgínia e habitual frequentador do teatro, ela disse:

“Luiz Antônio fora minha única e insubstituível paixão.” Virgínia proclamou de alto e bom som, diante do Epitacinho e do Luiz Antônio, que gargalhava com a situação.

Graças à extraordinária capacidade de se autopromover, Virgínia sempre transformava em notícia o seu cotidiano e, muitas vezes, forjou acontecimentos, que a mantinha nas manchetes publicadas em jornais e revistas.

Em janeiro de 1956, Juscelino Kubitschek tomava posse no Palácio do Catete do Rio de Janeiro e Virgínia logo tratou de armar uma jogada de marketing.

Nessa época, ela era a empresária de seu próprio elenco e arrendatária do Teatro Follies, onde se apresentava com suas “Virginetes”. Virgínia anunciou através da imprensa uma suposta visita do Presidente Juscelino Kubitschek ao teatro.

O então tenente da FAB, Antônio Carreira, era o proprietário do Teatro Follies e integrante da turma do Galeão, grupo rebelde onde se agruparam ferrenhos e inconformados opositores ao governo de Juscelino, cujo objetivo era promover um golpe militar no país, o qual somente se consumou com a implantação da ditadura em 1964. Diante do exposto, Virgínia foi alertada pelo esquentado Antônio Carreira, que a tal homenagem não poderia ocorrer.

Ela cagou e andou para a advertência do Carreira.

Mobilizou os fotógrafos e, na data marcada, bateu de frente com um grupo de baderneiros do famoso Clube da Lanterna, adeptos do político Carlos Lacerda.

Na calçada de frente ao teatro, Virgínia convocou suas Virginetes e o elenco, todos em trajes de cena para confrontar o grupo.

O fato se tornou notícia e ocupou as manchetes dos jornais do dia seguinte.

Estávamos no ano de 1954, quando Virgínia desfrutava de sua lua de mel, portanto, jamais poderia se encontrar no Palácio do Catete, num encontro amoroso com o então Presidente Vargas.

Getúlio nessa época vivia atormentado e “broxado”, por motivos provocados pelas ameaças de um golpe de Estado e comete suicídio com um tiro no peito, gesto nobre, com que conseguiu reverter o momento histórico em nosso país, visto que frustrou as pretensões dos golpistas lideradas por Carlos Lacerda.

Justifica-se, devido à idade avançada, que a nossa querida Virgínia Lane esteja misturando realidade com fantasia, porém inadmissível quando divulgadas pela mídia através de repórteres e internautas ignorantes, que nada sabem sobre história, nem tampouco sobre a memória do nosso país.

O presente relato corresponde apenas a um curto período de nosso convívio, do qual participamos como colaborador dessa grande personagem e incomparável estrela do Teatro de revistas do Rio de Janeiro, convívio esse que perdurou por quase uma década (1950/1960), em cujo período testemunhamos o enorme talento dessa brilhante e polivalente mulher, que ainda por vários anos percorreu este país em um ônibus na companhia de suas Virginetes, divulgando a graça e a beleza da mulher carioca.

Virgínia Lane, atualmente com 92 anos (2012), ainda se apresenta nos festejos carnavalescos da Cinelândia, centro do Rio de Janeiro, cantando suas inesquecíveis marchinhas, dotada de uma garra e saúde inesgotável, que felizmente sempre possuiu.

À nossa única e maior “Vedete do Brasil”, Virgínia Lane, rendemos nossa homenagem. 
Rio de Janeiro, novembro de 2012 Manoel Casimiro Lopes (Manekolopp)